- 1
Lisandro Amaral - Romance de Campo e Flor
- 2
Lisandro Amaral - Porteira a Fora
- 3
Lisandro Amaral - Da Estância Véia
- 4
Lisandro Amaral - Menina, Escuta Teu Cantor
- 5
Lisandro Amaral - Pela Voz do Campo
- 6
Lisandro Amaral - Serenatas no Teu Rancho
- 7
Lisandro Amaral - Romance de Lua e Estrada
- 8
Lisandro Amaral - De cruzada
- 9
Lisandro Amaral - Entre Deus e Os Que Me Escutam
- 10
Lisandro Amaral - Canto Ancestral
- 11
Lisandro Amaral - Seival
- 12
Lisandro Amaral - Catedral
- 13
Lisandro Amaral - Ritual de Morte e Manada
- 14
Lisandro Amaral - Tempos Lindos
- 15
Lisandro Amaral - Do Meu Coração
- 16
Lisandro Amaral - Razões de ser
- 17
Lisandro Amaral - A Luz do Homem
- 18
Lisandro Amaral - À moda antiga
- 19
Lisandro Amaral - Descendente
- 20
Lisandro Amaral - Firma a rédea Marculino
- 21
Lisandro Amaral - Hospital de Guerra
- 22
Lisandro Amaral - Para Um Índio
- 23
Lisandro Amaral - Pra Onde Olhava o Vigil
- 24
Lisandro Amaral - Chote Fronteiriço
- 25
Lisandro Amaral - Contrariedades
- 26
Lisandro Amaral - De Espanta Bagual de Noite
- 27
Lisandro Amaral - Décima pa'l Altamir cardozo
- 28
Lisandro Amaral - Empurrando as Morena
- 29
Lisandro Amaral - Entre o Basto Eo Chapéu
- 30
Lisandro Amaral - Meu Por de Sol
- 31
Lisandro Amaral - No Garrão de Um Milonguear
- 32
Lisandro Amaral - Casório de Fronteira
- 33
Lisandro Amaral - Chamando Tropa
- 34
Lisandro Amaral - Don Blanco
- 35
Lisandro Amaral - Entregando a Tropilha
- 36
Lisandro Amaral - Galopeando
- 37
Lisandro Amaral - Mamangava
- 38
Lisandro Amaral - Merenciano
- 39
Lisandro Amaral - Meu Amigo e Seu Bragado
- 40
Lisandro Amaral - Milonga do Peão Por Dia
- 41
Lisandro Amaral - No Tempo do Quintino
- 42
Lisandro Amaral - Peregrino
- 43
Lisandro Amaral - Romance do João guerreiro
- 44
Lisandro Amaral - A Modo de Anunciação
- 45
Lisandro Amaral - Ao Tranco de Uma Noite
- 46
Lisandro Amaral - Batismo
- 47
Lisandro Amaral - De Toda Trança
- 48
Lisandro Amaral - De Tribais e Nazarenas
- 49
Lisandro Amaral - Fazendo Tropilha
- 50
Lisandro Amaral - Feito Alpargata
- 51
Lisandro Amaral - Milonga De Tempo e vento
- 52
Lisandro Amaral - O Campeador
- 53
Lisandro Amaral - Petrificado
- 54
Lisandro Amaral - Pitaluga de Luzeiro
- 55
Lisandro Amaral - Portal
- 56
Lisandro Amaral - Quando Um Mata Mas os Dois Morrem
- 57
Lisandro Amaral - Rasga Diabo
- 58
Lisandro Amaral - Tempo Torcido
- 59
Lisandro Amaral - Tenho Voz No Coração
- 60
Lisandro Amaral - Tosando e Lidando
- 61
Lisandro Amaral - Vencendo Fronteiras
- 62
Lisandro Amaral - A Verdade do Campo É Seguir
- 63
Lisandro Amaral - Algum Dia Milagreiro
- 64
Lisandro Amaral - Amansando de Garupa
- 65
Lisandro Amaral - Amar é mais do que escrevi
- 66
Lisandro Amaral - Caminhos de Agosto
- 67
Lisandro Amaral - Chamarrita Saudade
- 68
Lisandro Amaral - Chote e Recado
- 69
Lisandro Amaral - Com a Crescente Nos Garrão
- 70
Lisandro Amaral - Dentre os confins da cordeona
- 71
Lisandro Amaral - Do Meu Novo Adeus
- 72
Lisandro Amaral - Milonga no fim do laço (ao SR. Átila Sá siqueira)
- 73
Lisandro Amaral - Na Estância do Sossego
- 74
Lisandro Amaral - Nos Olhos das Penas
- 75
Lisandro Amaral - O Mesmo Sol
- 76
Lisandro Amaral - Olhos de rio
- 77
Lisandro Amaral - Para o Olhar de Quem Sente
- 78
Lisandro Amaral - Picaço Oveiro
- 79
Lisandro Amaral - Ponciano te vai com Deus
- 80
Lisandro Amaral - Pra Enganar a Tristeza
- 81
Lisandro Amaral - Relíquia
- 82
Lisandro Amaral - Se Um Dia Tu Chegares
- 83
Lisandro Amaral - Semente de Lua
Canto Ancestral
Lisandro Amaral
Pela mesma razão
Que obriga a calhandra
A povoar o capão de coronilhas
De rebanhos de notas
E tropilhas de sons...
Pela mesma razão
Que força o arroio a correr
E o umbu a dar sombra
E crescer.
Meu bisavô farroupilha
Cujas mãos na guerra eram garras,
Eram flor na guitarra,
Eram luz no rincão,
Abriu-me picadas para sonoras liberdades!
Remarcou fronteiras flutuantes,
Espichou os lançantes até o uruguay.
E lutando,
E cantando,
Legou-me hombridade,
Um rumo
E canção,
Era um diabo -- hoje é santo!
Por isso eu canto!
Meu bisavô farrapo
Changueador, vaqueano e vago,
Que era paria, era lixo, era trapo,
Hoje é luxo,
Hoje é guapo...
Hoje é rua, é praça, hoje é busto...
(Que susto levaria
Se saltasse da pradaria
Que serviu de campo santo!)
A história mudou -- e quanto!
Por isso eu canto!
Eu canto!
Eu canto!
Meu vago ancestral charrua,
Cuja figura nua,
Ondeando o lombo do flete
Mesclando melena e crina,
Evitou que essa campina
Um dia virasse brete
De aventureiros errantes...
Enfrentou os bandeirantes,
Lusitanos e espanhóis,
Chuvas, pampeiros e sóis,
Porque a terra tinha dono.
Hoje é cidade, tem trono!
A história mudou -- e quanto!
Na teologia das avós,
- Duzentos anos após --
Sepé tiaraju é santo!
Por isso eu canto!
E canto
E canto!
Cantar, para mim,
É um fatalismo telúrico,
Um determinismo da raça.
Meu bisavô era umbu
E eu calhandra em seu galho;
Meu bisavô era bambu
Que os tempos fizeram lança.
Que os ventos fizeram quena...
E eu, conseqüência apenas
Desses tempos,
Desses ventos,
Me transformei em canção!
E canto para os de então!
E canto para os de então!
Outros mais terão motivos
Para celebrar os vivos
Que reinam, falam em paz.
Eu, que sou pássaro triste,
Bagual e de pouca voz;
Eu, que escutei as avós
Eu, que não conheço alpiste,
Cantarei os da culatra:
Esses que fizeram pátria!
Cantarei sempre os de trás!