1. 1

    Xirú Antunes - Oração do Ginete

  2. 2

    Xirú Antunes - Ponchito

  3. 3

    Xirú Antunes - Bem querer

  4. 4

    Xirú Antunes - Casta

  5. 5

    Xirú Antunes - Cismado

  6. 6

    Xirú Antunes - Cunumi

  7. 7

    Xirú Antunes - Décima Da Estância

  8. 8

    Xirú Antunes - Milonga de pelo largo

  9. 9

    Xirú Antunes - O Avesso do Couro

  10. 10

    Xirú Antunes - Romance de Estrada

  11. 11

    Xirú Antunes - Sou

  12. 12

    Xirú Antunes - Vila Morena

De onde terás vindo
Vida matreira, que hoje és minha
Que campos, perdidos no infinito
Encontrei em ti consciência da razão maior
Para viver do que ter nascido

Vagando em pagos feito pela ausência
Despertando sóis
Amadureceste a sombra fria
E eu sou mais no bem comum que tenho pela vida
Por saber que és o mesmo Deus que habita em mim
Que são iguais, que são sozinhos

Eu também sou tu
Buscando a interpenetração das querências
Num pago feito de saudade
Vivo laçando estrelas
Madrugando luas
E eu que pensei
Que a roda fosse fita de chegadas e partidas
Mas a roda não chega, nem parte
Vive em torno de si
Para dar ao corpo da carreta, como eu
Ilusão de ânsias percorridas

Deus plantou o homem na terra
Deu-lhe raízes ao vento, rosa ao pensamento
Luta na paz, paz na guerra
E o Homem deparou em si a origem das perguntas
Eu sou a maior pergunta, mas quem sou?

Não me basta de dia viver no corpo
E a noite viver na alma
O homem que sou nasceu em mim
Pensou, sou semente
Sou semente que chegou no tempo
Pousei num ventre
Despertei nesta existência
Plasmado no estado de ser, me fiquei
Alimento um elo cíclico
Telúrico da raça, raçador
Sou prosseguimento de meus avós
Para que meus filhos, sejam entre mim
E meus netos

Mas sei que plantado num sono de terra
Voltarei num dia desses ao nascer da morte
Porque a terra, a terra é o maior
De todos os ventres desta vida
Sou semente que chegou no tempo
E sou antes mesmo antes de saber que era
Hoje que sei, não me permito morrer nunca
Mas se após a minha morte
Não houver mais nada
Faço desse nada uma espera
Sem pressa, sem tempo
Para tornar a ser um dia

Por isto, por mais que siga a distante
Sei que não sai de mim, sou no princípio
E no fim, razão pura da existência
Que vagando na querência
O som da palavra pura
Expressão do pensamento
É a estrada feita no vento
Eu transito sem forma
Perfumando a brisa morna
Pela preguiça do tempo

Tenho rimas de silêncio
Quando em vulto eu me desfaço
Rogando sobre o rumo do meu passo
Me convém, deixando a rima que vem pro verso
Que eu nunca faço

Por mais que siga adiante
Sei que não sai de mim
Sou no princípio e no fim
Razão pura da existência
Que vagando na querência

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