Ontem Ao Luar

Vicente Celestino

Ontem ao luar, nós dois em plena solidão
Tu me perguntaste o que era a dor de uma paixão
Nada respondi, calmo assim fiquei
Mas, fitando o azul do azul do céu

A Lua azul eu te mostrei, mostrando-a a ti
Dos olhos meus correr senti uma nívea lágrima
E, assim, te respondi... Fiquei a sorrir
Por ter o prazer de ver a lágrima nos olhos a sofrer!

A dor da paixão não tem explicação
Como definir o que só sei sentir?
É mister sofrer para se saber o
Que no peito o coração não quer dizer!

Pergunta ao luar, travesso e tão taful
De noite a chorar na onda toda azul!
Pergunta ao luar, do mar à canção
Qual o mistério que há na dor de uma paixão?

Se tu desejas saber o que
É o amor e sentir o seu calor
O amaríssimo travor do seu dulçor!
Sobe um monte á beira mar ao luar
Ouve a onda sobre a areia a lacrimar!
Ouve o silêncio a falar na solidão
Do calado coração a penar, a derramar os prantos seus!
Ouve o choro perenal a dor silente, universal
E a dor maior que é a dor de Deus

Se tu queres mais saber a fonte dos meus ais
Põe o ouvido aqui na rósea flor do coração
Ouve a inquietação da merencória pulsação
Busca saber qual a razão por que
Ele vive, assim, tão triste
A suspirar, a palpitar, desesperação!
A teimar de amar um insensível coração
Que a ninguém dirá no peito ingrato em que ele está
Mas que ao sepulcro, fatalmente, o levará!

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