Violência é o carrão parar em cima do pé da gente
Fechar janela de vidro fumê e a gente nem ter chance de ver
A cara do palhaço de gravata
Pra não perder a hora ele olha o tempo perdido no Rolex dourado
Violência é a gente naquele Sol e o cara dentro do ar condicionado
Umas duas, três horas, quatro
Esperando uma melhor oportunidade
De a gente enfiar o revólver na cara do cara e plac
Violência é ele ficar assustado porque a gente é negro
Ou porque a gente chega assim nervoso, a ponto de bala
Cuspindo, gritando que ele passe a carteira e passe o relógio
Enquanto as bocas buzinam desesperadas
Violência são essas buzinas, essa fumaça
E o trânsito parado e outro carro que não entende
Que se dependesse da gente
O roubo não demoraria essa eternidade
Atrapalhando o movimento da cidade
Violência é você pensar que tudo deu certo e nada deu certo
Porque quando você vê tem um policial ali perto e outro policial ali perto
Querendo salvar o patrimônio do bacana
Apontando pra nossa cabeça um 38 e outro 38 à paisana
Violência é acabarem com a nossa esperança
De chegar lá no barraco e beijar as crianças
E ligar a televisão e ver aquela mesma discussão
Ladrão que rouba ladrão
A aprovação do mínimo ficou pra próxima semana
Violência é a gente ficar com a mão levantada, cabeça baixa
Em frente à multidão depois de entrar no camburão
Roxo de humilhação e pancada
E chegar na delegacia e o cara puxar a sua ficha corrida
E dizer que vai acabar outra vez com a nossa vida
Outra vez com a nossa
Violência é a gente receber tapa na cara e na bunda
Quando socam a gente naquela cela imunda
Cheia de gente e mais gente, e mais gente, e mais gente
Pensando como seria bom ter um carrão do ano e aquele relógio Rolex
Mas isso fica pra depois, uma outra hora, esquece