Coração de Violeiro

Rolando Boldrin

Naquela tapera velha que o tempo já destroçou
Morou Zé Dunga, um pretinho, valente trabalhador
Foi o maior violeiro que Deus no mundo botou
Sua viola parecia um passarinho cantador

Trabalhava o dia inteiro, feliz sem se lastimar
Mas quando a Lua formosa no céu pegava a briar
Toda gente arrudiava pra ver o preto cantar
Sua viola de pinho fazia as pedra chorar

Acontece que a Carolina, cabocla, esprito de cão
Bonita como a sereia, mas que muié tentação
Pra judiar do pretinho, fingiu lhe ter afeição
Querendo, que nem criança, brincar com seu coração

Coração de violeiro não é como outro qualquer
É frágil que nem as pétalas de um mimoso mal-me-quer
Que cai com o vento das asas do beija-flor do Tié
Perde a vida quando abelha vem pra lhe roubar o mel

Por isso, o pobre Zé Dunga, magoado pela traição
Não podendo mais guentar no peito a grande paixão
Agarrado na viola e debruçado no chão
Foi encontrado com um punhal cravado no coração

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