A tanto tempo eu me lembro quando era pequeno
Brincando na rua descalço, a chuva era meu chuveiro
Viajando e pensando nos anos que eu já vivi
De criança à terceira idade não é tarde pra refletir

Tive tempo de falar e tempo de ficar calado
Tempo de rasgar e costurar o que se foi rasgado
Tempo que foi, tempo que não volta mais
Tempo que vivia á dois, agora só tempo de guerra e paz

Não pude parar o tempo nem mudar a curva do vento
Mas com dificuldade eu tento tirar proveito do meu sofrimento
Meu pensamento lento quanto raciocínio
Olhos de visão nublada, com os dedos pouco domínio

Somos todos como fruta que amadurece e logo apodrece
Nasce como a flor e murcha como a sombra some não permanece
Num piscar de olhos se lembra e depois esquece
Alegra e se entristece, acorda e logo adormece

Tem quem envelhece e não investe pra amadurecer
Enriquece de tanto estresse, diminui ao invés de crescer
O esporte que ainda pratico e invisto, é meu bom humor
A oração diária ao pai analgésico que alivia a dor

Sou testemunha do passado, inspirador do futuro
Sei que de passo calmo eu vivo o presente e sigo o rumo
Andando, parando, dorme e acorda, levanta, senta
Vencendo, vivendo, me envolvendo nos meus oitenta

Vou na paz
Vou com o pai, que ele traz
A lâmpada que me ilumina
O que através da morte traz a vida
O que cura o corte e cicatriza
Vou na paz
Vou com o pai que ele traz
O som que a trombeta toca
Não vejo a hora de ir embora
De dormir e acordar na glória

Lembrei do meu criador nos dias da minha mocidade
Com força no redentor em vigor, cheguei nessa idade
Quero sempre trazer a lembrança o que me dá esperança
Tentar fazer com que meu coração seja igual de criança

Mas a preocupação e o desespero fez meu rosto enrugar mais cedo
O cabelo que era preto, branco, o passo que antes rápido, lento
Quando novo quis ficar velho pra viver logo em liberdade
E de velho quis ficar novo pra viver mais na vaidade

As dores do corpo me visitou antes que a minha experiência
Minha amiga bengala me conquistou e pra andar deu mais resistência
Feliz aquele que entende que eu sou limitado
E que fisicamente demorado eu chego ao destinatário

Feliz o que ignora o café que eu derrubei na mesa
E com muita paciência me ensina o que seja pra que eu entenda
Feliz aquele que compreende a minha dificuldade pra ouvir
E os que me dão atenção com satisfação me fazem sorrir

Feliz o que me faz sentir que por Deus eu sou muito amado
E se todos se esquecerem de mim por ele jamais abandonado
Sei que pra muitos eu sou uma rocha de tropeço
E até pros meus próprios filhos no mesmo sonho eu sou um pesadelo

Vejo mas esqueço, não deixo afetar o meu coração
Percebo e sei que este é o preço a ser pago com humilhação
Mas sou cristão, e por isso que insisto, o velho aqui agüenta
Lamento por ser tão rápida, a chegada dos meus oitenta

Vou
Vou na paz
Vou com o pai, que ele traz
A lâmpada que me ilumina
O que através da morte traz a vida
O que cura o corte e cicatriza
Vou na paz
Vou com o pai que ele traz
O som que a trombeta toca
Não vejo a hora de ir embora
De dormir e acordar na glória

Agilidade com as mãos me lembro de quando tinha
Rápido com as pernas, membros, ossos, saúde em cima
Com lágrimas plantei, alegrias foi o que colhi
Com enfermidades andei, e na fé cheguei até aqui

Ao meu redor, desbota a cor o meu canto desafinou
Eu perdi o perfume da flor meu arco íris ficou incolor
Tento ser otimista mesmo quando me sinto triste
Sento no meu canto, escrevo e canto vou no limite

Do tom da minha voz trêmula gasta e meio baixa
Perdendo o dom desafinado compunha o que cantava
Deixo pegadas de exemplo marcadas de bom aqui
Quero ensinar o que eu aprendi, até com os erros que eu já cometi

Vivi mais do que vou viver, mas ainda tenho alguns dias
Pra onde eu vou não existe dor, sofredor vai pra eterna vida
Obrigado Deus por manter em mim sua chama viva
Apesar de toda fadiga eu vou até o fim na minha árdua corrida

Entendo agora que a morte é melhor do que o nascimento
E que o final das coisas é melhor do que o seu começo
As vezes a mágoa é melhor que o sorriso no rosto
Envelhecer é melhor que tentar ficar cada vez mais novo

Prefiro que vão á meu velório pra reflexão dos que irão me ver
Do que irem á meu aniversário por que pouco proveito vão ter
Aguardo a morte, disposto e forte o velho coração agüenta
Com visto de Cristo no passaporte no porte dos meus oitenta

-A nossa vida é como um vapor, como a neblina
Que aparece e logo vai embora né?
Combati o bom combate, completei a carreira e guardei a fé
Os nosso dias chegam até setenta, oitenta anos
Passou disso é canseira, e é enfado
Os nossos dias passam muito rápido e nós voamos
O velho tá cansado, mas tá firme e forte, em Deus

Vou na paz
Vou com o pai, que ele traz
A lâmpada que me ilumina
O que através da morte traz a vida
O que cura o corte e cicatriza
Vou na paz
Vou com o pai que ele traz
O som que a trombeta toca
Não vejo a hora de ir embora
De dormir e acordar na glória

Vou na paz
Vou com o pai, que ele traz
A lâmpada que me ilumina
O que através da morte traz a vida
O que cura o corte e cicatriza
Vou na paz
Vou com o pai que ele traz
O som que a trombeta toca
Não vejo a hora de ir embora
De dormir e acordar na glória

Vou na paz
Vou com o pai, que ele traz
A lâmpada que me ilumina
O que através da morte traz a vida
O que cura o corte e cicatriza
Vou na paz
Vou com o pai que ele traz
O som que a trombeta toca
Não vejo a hora de ir embora
De dormir e acordar na glória

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