1. 1

    Tom Jobim - Eu Sei Que Vou Te Amar

  2. 2

    Zélia Duncan - Catedral

  3. 3

    Ritchie - Menina Veneno

  4. 4

    Lenine - Paciência

  5. 5

    João Gilberto - Chega de Saudade

  6. 6

    Chico Buarque - Construção

  7. 7

    Cássia Eller - Malandragem

  8. 8

    Luiz Gonzaga - Asa Branca

  9. 9

    Raul Seixas - Metamorfose Ambulante

  10. 10

    RPM - Olhar 43

  11. 11

    Belchior - Alucinação

  12. 12

    Marisa Monte - Beija Eu

  13. 13

    Renato Russo - Que País É Esse?

  14. 14

    Tom Jobim - Águas de Março

  15. 15

    Almir Sater - Tocando Em Frente

  16. 16

    Cazuza - Ideologia

  17. 17

    Zé Ramalho - Chão de Giz

  18. 18

    Tom Jobim - Garota de Ipanema

  19. 19

    Blitz - Você Não Soube Me Amar

  20. 20

    Roberto Carlos - Como É Grande o Meu Amor Por Você

Construção

Chico Buarque

Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido

Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima

Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado

E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado

Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego

Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música

E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contramão atrapalhando o sábado

Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir
A certidão pra nascer, a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir
Deus lhe pague

Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça desgraça que a gente tem que tossir
Pelos andaimes pingentes que a gente tem que cair
Deus lhe pague

Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
E pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir
Deus lhe pague

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