Da Lama / Afrontamento (part. Stefanie)

Tássia Reis

Ninguém é melhor que ninguém, pelo que sei, ein
Por mais dinheiro que diga que tem
Por mais riqueza que sabe que vem
Farinhas do mesmo saco
Partilham do mesmo prato
Quando conhecem os mesmos fatos
Se protegem com os mesmos tratos
No fundo são todos fracos
Dependentes de acordos
Sem modos no lodo
Enquanto eu, povo, me fodo
No meu bairro não há esse jogo
Subiu mais oito de novo
E só esse mês
Famílias esperam, mas nunca entenderam a vez
Vários louco, é
Eu disse
Vários louco
Resolvem no pipoco
É Deus por nós
E um contra o outro
Subindo o morro é diferente
Cidadão de outra visão
E defensor só quer, mé-mé, foder com a gente
É indecente, é angustiante
Formar uma mente já conflitante
Para que ela seja mais consciente
E não se torne um assaltante
Mas não oferecem nada decente
É revoltante e alarmante
Como eu me sinto impotente
E ainda me acho importante
Eu só quero ser decente, ser relevante
Ser o bastante para mostrar pra nossa gente
Que eu também vim

Da lama eu vim (é)
Das ruas eu vi (tô)
Dos becos que vi (só)
Senhora de mim (sou)
Por que me ama
Eu vim da lama
Eu vim da lama

Vejo pedras preciosas no meio do lamaçal
Muita gente conformada com o serviço braçal
Só conseguem se enxergar na posição de serviçal
Sendo pau mandado de um ser humano boçal
Não é de igual pra igual
Tudo é muito desigual
Que Deus honre e abençoe meus irmão de senegal
E de todos que estão mal
Vivendo na injustiça
Se afundando cada vez mais nessa areia movediça
Creio na divina justiça
Por isso que Jesus veio
Nem tudo é lícito, cada um tem seus meios
Uns correm pelo certo
Outros puxam tapete
Tirar o pé da lama *ssim é fácil
Pra muitos esse é o macete
Quero viver sem drama
Uma vida em abundância
Não é exuberância
Eu sei bem que passei na minha infância
Distância da destruição
Pra contemplar toda beleza da criação
Hey

Da lama eu vim (é)
Das ruas eu vi (tô)
Dos becos que vi (só)
Senhora de mim (sou)
Por que me ama
Eu vim da lama
Eu vim da lama

Da lama eu vim
Da lama eu vim

Ô-uô

Afrontamento

Quer saber
O que me incomoda, sincero
É ver que pra nós a chance nunca sai do zero
Que, se eu me destacar, é pura sorte, jão
Se eu fugir da pobreza não escapo da depressão, não
Num quadro triste, realista
Numa sociedade machista
As oportunidades são racistas
São dois pontos a menos pra mim
É difícil jogar
Quando as regras servem pra decretar o meu fim
Arrastam minha cara no asfalto
Abusam, humilham
Tiram a gente de loco
Me matam todo dia mais um pouco
A cada cláudia morta, a cada alan morto
Se não bast*sse essa injustiça e toda dor
Transformam adolescentes em um filho da puta de um malfeitor
É complicado essa anedota, não acha?
Mas hoje ouvirão verdades vindas dessa racha
No rap, ego inflado
Os cara se acha
Mano, ninguém se encontra
E geral arrasta
À margem de tudo a gente marcha
Pra manter-se vivo
Respirando nessa caixa
Eu quero mais
Eu vou no desdobramento
Nem que pra isso eu tenha que formar um movimento
E agora é preta no comando do empoderamento
E eu vindo logo de bando
Vai vendo
Com o afro alaranjado
Chegando no talento
Gritando mãos ao alto
E atirando argumento, pow
De zona de conforto pra zona de confronto, valendo
Isso mesmo, me chame de afrontamento

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