Estou nas vigas olhando para baixo
Está frio aqui
Entre paredes de pedra
Eu fiz minha casa
E o ar fica pesado com o incenso
Penas caem de pombos
Arrulhando na torre
Raramente vou lá, a vista daqui é tão linda
E eu posso ver todo mundo em seus piores momentos
Nos seus piores momentos
Eu não sou uma sádica
Gosto de poder ser testemunha da solidão
E de ser um poder superior caso não haja um
Caso não haja um
Eu não sou um poder superior
Eu só moro no teto porque estou sozinha nas periferias
E isso dá algum sentido à minha vida no exílio
No meu exílio
A luz cinzenta é filtrada através das lajes
E as lajes brilham
Resplandecente do vitral
Cem pés abaixo
Enquanto ando na ponta dos pés rangendo sobre as orações
Suplicando ao seu criador
Chorando com o coral
Não estou imune à sinceridade abaixo de mim
Me faz sentir, me faz ser sagrada
Mas as lágrimas eu entendo que não deixo escorrer
Não, eu não pertenço
Observando as figuras, todos os santos
Mas principalmente os pecadores que vêm e vão
E alguns estão desesperados
Mas os outros têm a sensação de que pertencem
E eu não pertenço
Alguns apenas se voltam para os céus
Quando o fim parece desesperador
Tenho a sensação avassaladora
Que não há ninguém olhando para baixo (olhando para baixo)
Pelo menos eu estou olhando para baixo