O tempo se faz de bacana, legal
Mas é traiçoeiro
Te devora pelos minutos a fio
Enganando, oferecendo algo
Mostra a vida pela tela da juventude, te seduz
Como noiva perfeita, te leva e você faz entender
Que a inocência deve ser deixada para trás
O sistema, seu aliado, diz que a plenitude só depois dos dezoito
Tempo de moço bonito e moça perfeita até os trinta
E ele implacavelmente vai te levar
Hoje é domingo, dia de festa, alegria e ele está lá
Quieto, sorrateiro, te vendo passar
Aos quarenta te iludem que a vida começa agora
A essa hora? E vem os cinquenta, sessenta, será que chego lá?
Lá onde, se ele ainda não desistiu, continua a passar
Os primeiros fios de cabelos brancos, já nem me lembro mais
São tantos, se Deus me ajudar, passo bem pelos setenta
E as pernas já não obedecem, cansadas, por vezes
Os amores, ah! Os amores, que saudade que dá
Lembro da menina namoradeira que comigo queria casar
E aquela que ao meu lado resolveu ficar
Mas não
A vida é assim mesmo, queremos ir além e o além não nos leva a lugar algum
Todos somos passageiros de uma viagem chamada vida
Onde as estações de embarque são os nossos dias
De onde, sempre, ainda que a viagem fique cada vez mais curta
Poderemos recomeçar