Torturante ironia

Orestes Barbosa

Que mágoa neste abandono
Que ânsia perdi o sono
Vivo em tristonho cantar

Porque a canção mais aflita
É a forma que há mais bonita
Da gente poder chorar

Sobes este barranco
Sujando o vestido branco
Pisando as pedras do chão

Mas sem saber na verdade
Que desde lá da cidade
Tu pisas meu coração

Por ser do morro e moreno
É que eu soluço, é que eu peno
Bebendo meu amargor

Por que me negam querida
Esta alegria da vida
De possuir teu amor

Que torturante ironia
O amor com categoria
Eu amo e não posso amar

Porque a mulher que eu adoro
Não mora aqui onde eu moro
Deixa então soluçar

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