Não, eu não tô pronta e nem é hora
Não posso com isso agora
Nem sei se aguento esse rojão
Que ensanguentou as minhas mãos
E a foice me é presente dado
Miséria do patriarcado
Na clandestina decisão de interromper a gestação
Me rasga o véu ventre inocente
A igreja diz que é pecado
Aciona logo o camburão
Ou me condena ao valão
Se serviço não for bem pago
A prova do crime é encontrada
E só meu corpo é enquadrado
Ai, ó mãe de anjo, olhai por mim
E mesmo que eu definhe aqui
Embale o útero com cuidado
Órgão há séculos penhorado
De laica posse do meu país
Ai, ó mãe de anjo, olhai por mim
E mesmo que eu definhe aqui
Embale o útero com cuidado
Órgão há séculos penhorado
De laica posse do meu país
Mesmo que eu não morra fica o fardo
Dum Matheus que eu não balanço
É o peso da sociedade me punindo e me julgando
E não se fala sobre o assunto
Não se pensa sobre o assunto
Pro Estado eu sou um corpo
Vivo ou morto, só um corpo
Me rasgam o véu ventre inocente
A igreja diz que é pecado
Aciona logo o camburão
Ou me condena ao valão
Se o serviço não for bem pago
A prova do crime é encontrada
E só meu corpo é enquadrado
Ai, ó mãe de anjo, olhai por mim
E mesmo que eu definhe aqui
Embale o útero com cuidado
Órgão a séculos penhorado
De laica posse do meu país
Ai, ó mãe de anjo, olhai por mim
E mesmo que eu definhe aqui
Embale o útero com cuidado
Órgão a séculos penhorado
De laica posse do meu país
De laica posse do meu país
De laica posse do meu país.