1. 1

    João de Almeida Neto - Tango do Meretrício

  2. 2

    João de Almeida Neto - As Razões do Boca Braba

  3. 3

    João de Almeida Neto - Quando a Mãe Se Vai do Rancho

  4. 4

    João de Almeida Neto - Florêncio Guerra e Seu Cavalo

  5. 5

    João de Almeida Neto - Milongão de Laçar Touro

  6. 6

    João de Almeida Neto - Nova trilha

  7. 7

    João de Almeida Neto - O Meu País

  8. 8

    João de Almeida Neto - Vozes rurais

  9. 9

    João de Almeida Neto - Alma de Poço

  10. 10

    João de Almeida Neto - O Laçador de Barro

  11. 11

    João de Almeida Neto - Palavra de cantor

  12. 12

    João de Almeida Neto - Provinciano

  13. 13

    João de Almeida Neto - Canção dos Arrozais

  14. 14

    João de Almeida Neto - Vanerão do Boa Vida

  15. 15

    João de Almeida Neto - Definição do grito

  16. 16

    João de Almeida Neto - Fogo de macho

  17. 17

    João de Almeida Neto - Brasiliana (part. Talo Pereyra)

  18. 18

    João de Almeida Neto - Cantor De Fronteira

  19. 19

    João de Almeida Neto - Flor de campeira

  20. 20

    João de Almeida Neto - Grito dos livres

  21. 21

    João de Almeida Neto - Milonga do Pajador

  22. 22

    João de Almeida Neto - Mundo e Carona (part. Nelson Cardoso)

  23. 23

    João de Almeida Neto - Numa Volta de Tropa

  24. 24

    João de Almeida Neto - Romance Costeiro

  25. 25

    João de Almeida Neto - A Estrela da Espora (part. Trio de Ouro)

  26. 26

    João de Almeida Neto - Al Yaguari

  27. 27

    João de Almeida Neto - Aquele Moço

  28. 28

    João de Almeida Neto - Bailanta

  29. 29

    João de Almeida Neto - Barqueiro do Jacuí (part. Elton Saldanha)

  30. 30

    João de Almeida Neto - Carreteiro do Rio Grande

  31. 31

    João de Almeida Neto - Catcho Cunha

  32. 32

    João de Almeida Neto - Cavalos de Muda

  33. 33

    João de Almeida Neto - Chico Mendes

  34. 34

    João de Almeida Neto - China Atrevida

  35. 35

    João de Almeida Neto - De Companheiros

  36. 36

    João de Almeida Neto - Fronteiriça Procedência

  37. 37

    João de Almeida Neto - Homem sem coragem

  38. 38

    João de Almeida Neto - Homenagem Ao Seminário de Vacaria

  39. 39

    João de Almeida Neto - Lavando a Alma

  40. 40

    João de Almeida Neto - Légua e Pico

  41. 41

    João de Almeida Neto - Milonga da coragem

  42. 42

    João de Almeida Neto - Milonga de Outras Bandas

  43. 43

    João de Almeida Neto - Na Boca do Violão

  44. 44

    João de Almeida Neto - Namorada

  45. 45

    João de Almeida Neto - Numa Estação

  46. 46

    João de Almeida Neto - O Espelho

  47. 47

    João de Almeida Neto - O pingo e a pinga

  48. 48

    João de Almeida Neto - O Rio Dos Homens Sem Sonhos

  49. 49

    João de Almeida Neto - O Sul Por Vida

  50. 50

    João de Almeida Neto - Paisagem Urbana

  51. 51

    João de Almeida Neto - Romance Estradeiro

  52. 52

    João de Almeida Neto - Ronda Redonda

  53. 53

    João de Almeida Neto - Sina Migrante

O Laçador de Barro

João de Almeida Neto

A estátua do laçador,
Vou fazer outra de barro.

O material que usarei
Há que ser desenterrado
Dum costado de rodeio
Nos paradores do gado,

Pra que este barro contenha
Restos de bicho e de gente,
E quando moldado venha
Com espírito vivente.

Misturo o barro no suor
Dessas minhas mãos de oleiro
E a alma do laçador
É o que procuro primeiro,

Terá que ser alma buena
E volte a nascer de novo
Corajosa mas serena
Como a alma do seu povo.

A estátua do laçador,
Vou fazer outra de barro.

Cuidarei que tenha boca
Fechada, cerrado o cenho,
Pra evitar que solte os gritos
Que nem eu mesmo contenho,

Um chapéu com aba grande
Pras intempéries da vida,
E uma faca que garanta
Que não lhe passem por cima.

Os olhos do laçador
Serão de um azul profundo
Como o céu dos laçadores
Que já se foram do mundo,

Mas que sempre, olhando longe,
Vejam campo e vejam gado,
E não as rugas do arado
Da terra exausta de hoje.

Eu não farei uma estátua
De bronze, quero de barro,
De acordo com a estirpe guapa
Do homem do meu estado.

O bronze leva pros anos
Um Deus imortalizado,
E o barro é o cotidiano
Do campo com seu trabalho.

Quem sabe ver o gaúcho,
Quem conhece esta querência,
Não o vê portando luxo,
Nem soberba e imponência,

Mas vê honra e vê respeito
Num homem trabalhador,
E é justamente este jeito
Que quero pro laçador.

A estátua do laçador,
Vou fazer outra de barro.

Nos pés as botas franzidas
Pelo uso das esporas,
Que não cortam, mas convidam
Pras lidas do campo a fora,

Nas mãos a crina da rédea
Dum gateado de valor,
Que sem um cavalo bueno
Ninguém se faz laçador.

Por fim, o laço de couro
Com a sua argola de aço
Como símbolo de um povo
Que conquistou se espaço.

Uma campeira esperança
De quem tem força no braço,
Pois o que a mão não alcança
Se traz na ponta do laço.

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