- 1
Jayme Caetano Braun - Paisagens Perdidas
- 2
Jayme Caetano Braun - Payada Das Primaveras
- 3
Jayme Caetano Braun - Mangueira de Pedra
- 4
Jayme Caetano Braun - Meu Canto
- 5
Jayme Caetano Braun - Do Tempo
- 6
Jayme Caetano Braun - Bochincho
- 7
Jayme Caetano Braun - Tio Anastácio
- 8
Jayme Caetano Braun - Missioneiro
- 9
Jayme Caetano Braun - Cordeiro Guacho
- 10
Jayme Caetano Braun - De Primeiro
- 11
Jayme Caetano Braun - Alma Pampa
- 12
Jayme Caetano Braun - Payada do Laçador
- 13
Jayme Caetano Braun - Chimarrão do Estrivo
- 14
Jayme Caetano Braun - Meu Pedido
- 15
Jayme Caetano Braun - Heranças
Bochincho
Jayme Caetano Braun
A um bochincho, certa feita
Eu fui chegando de curioso
Que o vício é que nem sarnoso
Nunca para, nem se ajeita
Baile de gente direita
Eu vi de pronto que não era
Na noite de primavera
Gaguejava a voz dum tango
E eu sou louco por fandango
Que nem pinto por quirera!
Atei meu baio longito
Num galho de guamirim
Desde guri eu fui assim
Não brinco nem facilito
Em bruxas não acredito
¡Pero que las hay, las hay!
Eu sou da costa do Uruguai
Meu velho pago querido
E, por andar desprevenido
Há tanto guri sem pai
No rancho de santa-fé
De pau-a-pique, barreado
Num trancão de convidado
Eu me entreverei no banzé
O chinaredo a bolapé
No ambiente fumacento
Um candeeiro, bem no centro
Num lusco-fusco de aurora
Pra quem chegava de fora
Pouco enxergava ali dentro
Dei de mão numa tiangaça
Que me cruzou no costado
E já sai entreverado
Entre a poeira e a fumaça
¡Óigale!, China lindaça!
Morena de toda a clina
Dessas da venta brasina
Com cheiro de lixiguana
Que quando ergue uma pestana
Até a noite se ilumina
Misto de diaba e de santa
E com ares de quem é dona
E um gosto de temporona
Que traz água na garganta
E eu me grudei na percanta
O mesmo que um carrapato!
E o gaiteiro era um mulato
Que até dormindo tocava
E a gaita choramingava
Como namoro de gato
A gaita velha gemia
Às vezes quase parava
De repente se acordava
E num vanerão se perdia!
E eu contra a pele macia
Daquele corpo moreno
Sentia o mundo pequeno
Bombeando, cheio de enlevo
Dois olhos, flores de trevo
Com respingos de sereno
Mas o que é bom se termina
Cumpriu-se um velho ditado
Eu, que dançava embalado
Nos braços doces da China
Escutei de relancina
Uma espécie de relincho
Era o dono do bochincho
Meio oitavado num canto
Que me olhava com espanto
Mais sério do que um capincho
Foi ele que se veio
Pois, se era dele a pinguancha
Bufando e abrindo cancha
Como dono do rodeio
Quis me partir pelo meio
Co'um talonaço de adaga
Que se me pega, me estraga!
Chegou a levantar um cisco!
Mas não é à toa, chomisco
Que sou de São Luiz Gonzaga!
Meio na curva do braço
Eu consegui tirar o talho
Mas quase que me atrapalho
Porque havia pouco espaço
Mas senti o calor do aço
E o calor do aço arde!
Me levantei sem alarde
Por causa do desaforo
E soltei meu marca-touro
Num medonho
Buenas tardes
Eu tenho visto cosa feia
Tenho visto judiaria
Mas hoje ainda me arrepia
Lembrando aquela peleia
Talvez quem ouça não creia
Mas vi nascer, no pescoço
Do índio do berro grosso
Como uma cinta vermelha
E desde o beiço até a orelha
Ficou relampeando o osso!
O índio era um índio touro
Mas até touro se ajoelha!
Cortado do beiço à orelha
Amontoou-se como um couro
E, amigos, foi um estouro
Daqueles que dava medo!
Espantou-se o chinaredo
E aquilo foi uma zoada!
Parecia até uma eguada
Disparando num varzedo
Não há quem pinte o retrato
Dum bochincho quando estoura
Tinidos de adaga, espora
E gritos de desacato
Berros de quarenta-e-quatro
De cada canto da sala
E a velha gaita baguala
Num vanerão pacholento
Fazendo acompanhamento
Do turumbamba de bala!
É China que se escabela
Redemoinhando na porta
E xiru-da-guampa-torta
Que vem, direito, à janela
Num grito de toda goela
Num berreiro alucinante
O índio que não se garante
Vendo sangue, se apavora
E se manda campo fora
Levando tudo por diante!
Eu sou crente na divindade
Morro quando o Deus quiser
Mas, amigos, se eu disser
Até periga verdade
Naquela barbaridade
De chinaredo fugindo
De grito e bala zunindo
O gaiteiro alheio a tudo
Tocava um xotes clinudo
Já quase meio dormindo!
E a coisa ia indo assim
Balanceei a situação
Já quase sem munição
E todos atirando em mim
Qual ia ser o meu fim?
Eu me dei conta de repente
Eu não vou ficar pra semente
Mas gosto de andar no mundo!
Me esperavam lá nos fundo
Eu saí na porta da frente
E, dali, eu ganhei o mato
Abaixo de tiroteio
Ainda escutava o floreio
Da cordeona do mulato
E, pra encurtar o relato
Eu me bandeei pra o outro lado
Cruzei o Uruguai a nado
Que o meu zanho era um capincho
E a história deste bochincho
Faz parte do meu passado
E a China?
Essa pergunta me é feita
Em cada vez que eu declamo
É uma cosa que eu reclamo
E acho que é até uma desfeita
Acho que não é direita
E até entender nem consigo
Eu, no medonho perigo
Duma situação brasina
Todos perguntam da China
E ninguém se importa comigo!
E a China, eu nunca mais vi
No meu gauderiar andejo
Somente em sonhos a vejo
Num bárbaro frenesi
Talvez ande por aí
No rodeio das alçadas
Ou talvez, nas madrugadas
Seja uma estrela xirua
Dessas que se banha nua
No espelho das aguadas
Eu fui chegando de curioso
Que o vício é que nem sarnoso
Nunca para, nem se ajeita
Baile de gente direita
Eu vi de pronto que não era
Na noite de primavera
Gaguejava a voz dum tango
E eu sou louco por fandango
Que nem pinto por quirera!
Atei meu baio longito
Num galho de guamirim
Desde guri eu fui assim
Não brinco nem facilito
Em bruxas não acredito
¡Pero que las hay, las hay!
Eu sou da costa do Uruguai
Meu velho pago querido
E, por andar desprevenido
Há tanto guri sem pai
No rancho de santa-fé
De pau-a-pique, barreado
Num trancão de convidado
Eu me entreverei no banzé
O chinaredo a bolapé
No ambiente fumacento
Um candeeiro, bem no centro
Num lusco-fusco de aurora
Pra quem chegava de fora
Pouco enxergava ali dentro
Dei de mão numa tiangaça
Que me cruzou no costado
E já sai entreverado
Entre a poeira e a fumaça
¡Óigale!, China lindaça!
Morena de toda a clina
Dessas da venta brasina
Com cheiro de lixiguana
Que quando ergue uma pestana
Até a noite se ilumina
Misto de diaba e de santa
E com ares de quem é dona
E um gosto de temporona
Que traz água na garganta
E eu me grudei na percanta
O mesmo que um carrapato!
E o gaiteiro era um mulato
Que até dormindo tocava
E a gaita choramingava
Como namoro de gato
A gaita velha gemia
Às vezes quase parava
De repente se acordava
E num vanerão se perdia!
E eu contra a pele macia
Daquele corpo moreno
Sentia o mundo pequeno
Bombeando, cheio de enlevo
Dois olhos, flores de trevo
Com respingos de sereno
Mas o que é bom se termina
Cumpriu-se um velho ditado
Eu, que dançava embalado
Nos braços doces da China
Escutei de relancina
Uma espécie de relincho
Era o dono do bochincho
Meio oitavado num canto
Que me olhava com espanto
Mais sério do que um capincho
Foi ele que se veio
Pois, se era dele a pinguancha
Bufando e abrindo cancha
Como dono do rodeio
Quis me partir pelo meio
Co'um talonaço de adaga
Que se me pega, me estraga!
Chegou a levantar um cisco!
Mas não é à toa, chomisco
Que sou de São Luiz Gonzaga!
Meio na curva do braço
Eu consegui tirar o talho
Mas quase que me atrapalho
Porque havia pouco espaço
Mas senti o calor do aço
E o calor do aço arde!
Me levantei sem alarde
Por causa do desaforo
E soltei meu marca-touro
Num medonho
Buenas tardes
Eu tenho visto cosa feia
Tenho visto judiaria
Mas hoje ainda me arrepia
Lembrando aquela peleia
Talvez quem ouça não creia
Mas vi nascer, no pescoço
Do índio do berro grosso
Como uma cinta vermelha
E desde o beiço até a orelha
Ficou relampeando o osso!
O índio era um índio touro
Mas até touro se ajoelha!
Cortado do beiço à orelha
Amontoou-se como um couro
E, amigos, foi um estouro
Daqueles que dava medo!
Espantou-se o chinaredo
E aquilo foi uma zoada!
Parecia até uma eguada
Disparando num varzedo
Não há quem pinte o retrato
Dum bochincho quando estoura
Tinidos de adaga, espora
E gritos de desacato
Berros de quarenta-e-quatro
De cada canto da sala
E a velha gaita baguala
Num vanerão pacholento
Fazendo acompanhamento
Do turumbamba de bala!
É China que se escabela
Redemoinhando na porta
E xiru-da-guampa-torta
Que vem, direito, à janela
Num grito de toda goela
Num berreiro alucinante
O índio que não se garante
Vendo sangue, se apavora
E se manda campo fora
Levando tudo por diante!
Eu sou crente na divindade
Morro quando o Deus quiser
Mas, amigos, se eu disser
Até periga verdade
Naquela barbaridade
De chinaredo fugindo
De grito e bala zunindo
O gaiteiro alheio a tudo
Tocava um xotes clinudo
Já quase meio dormindo!
E a coisa ia indo assim
Balanceei a situação
Já quase sem munição
E todos atirando em mim
Qual ia ser o meu fim?
Eu me dei conta de repente
Eu não vou ficar pra semente
Mas gosto de andar no mundo!
Me esperavam lá nos fundo
Eu saí na porta da frente
E, dali, eu ganhei o mato
Abaixo de tiroteio
Ainda escutava o floreio
Da cordeona do mulato
E, pra encurtar o relato
Eu me bandeei pra o outro lado
Cruzei o Uruguai a nado
Que o meu zanho era um capincho
E a história deste bochincho
Faz parte do meu passado
E a China?
Essa pergunta me é feita
Em cada vez que eu declamo
É uma cosa que eu reclamo
E acho que é até uma desfeita
Acho que não é direita
E até entender nem consigo
Eu, no medonho perigo
Duma situação brasina
Todos perguntam da China
E ninguém se importa comigo!
E a China, eu nunca mais vi
No meu gauderiar andejo
Somente em sonhos a vejo
Num bárbaro frenesi
Talvez ande por aí
No rodeio das alçadas
Ou talvez, nas madrugadas
Seja uma estrela xirua
Dessas que se banha nua
No espelho das aguadas