Eu fui convidado um dia pra laçar um boi perigoso
Um zebu da cauda fina, na estância do seu fragoso
A carta desafiava uma laçador corajoso
Pois o boi roubou a fama de outros peões famosos
Só faltava a minha fama pro boi derrubar na grama
Eu dei um pulo da cama e fui laçar o boi barroso
Cheguei na estância de noite e por lá fiquei de pouso
Passei a noite sonhando com o tal boi cabuloso
Quando foi no outro dia, quase que fiquei nervoso
Quando ouvi a peonada me chamar de aventuroso
O povo da redondeza veio ver minha proeza
E disseram: é, com certeza, vais perder pro boi barroso
Não liguei pros faladores, sou calmo e cauteloso
Fui encilhar meu cavalo que tem nome de mimoso
Chamei meus quatro cachorros pra pegar são venenoso
E fui tirar o boi do mato, ainda estava serenoso
Os cães pro mato se foi, por lá bateram no boi
Credo em cruz, deus me perdoe, mas era o diabo o boi barroso
Inveredou pro meu lado, que parecia o tinhoso
Sorrindo, abri meu cavalo, não achei muito custoso
Passou-se por mim correndo, aquele boi malicioso
Meu laço de treze braças espichou, despretencioso
Ainda estiquei o braço, tiniu a argola de aço
Senti na ponta do laço as guampas do boi barroso
Gritei pro dono da estância: ta seguro o boi teimoso
Disse: leva pro palanque e sangra esse boi fogoso
Eu mesmo assei o churrasco e reparti com os curioso
Levei o couro pra mim, o meu prêmio vitorioso
Botei o couro na estaca, fiz um laço e uma guaiaca
E uma bainha pra faca que matou o boi barroso