Se digo meu amor é por ser teu
Se digo minha vida é por ser tua
A chama que na cama não morreu
Quando à luz dos lençóis te vejo nua
Eu quase deixo de ser eu
Ai meu amor, minha maçã de Agosto
Minha romã madura em cada seio
Rainha-Cláudia que me sabe ao gosto
Do pão moreno e puro de centeio
Que é o teu corpo nu que eu saboreio
Bebendo o vinho do Sol posto
E mordo a tua boca de cereja
A tua orelha rosa de groselha
Pois a morder um homem também beija
E deixa-te na pele a flor vermelha
Que cheira a madressilva e a suor
Ao lilás dos teus olhos a dar flor
Quando amanheces a fazer amor
Nos ramos dos teus braços eu penduro
Uma grinalda agreste de gemidos
E o meu fruto de homem já maduro
Enche de força e seiva os teus sentidos
Até teu corpo estar seguro
Seguro dessa força que percorre
Os corredores da noite do teu corpo
Dessa força viril que nunca morre
Senão quando de amor eu cair morto
Sobre o teu peito pelo qual escorre
O mar da seiva do meu corpo
Depois do amor ainda nos sobeja
O cheiro de alfazema de ramada
Nos teus cabelos que a penumbra beija
E são o linho da minha almofada
Nas tuas mãos parados no lençol
Que é feito de ternura amarrotada
À espera do primeiro raio de Sol
Que toque no teu corpo madrugada