1. 1

    San Marino - Copo de cerveja

  2. 2

    Gaúcho da Fronteira - É Disso Que o Velho Gosta

  3. 3

    César Oliveira e Rogério Melo - Apaysanado

  4. 4

    Grupo Rodeio - Gritos de Liberdade

  5. 5

    Teixeirinha - Querência Amada

  6. 6

    Gildo de Freitas - Lembrança Do Passado

  7. 7

    Os Mirins - O Que Tem a Rosa

  8. 8

    Os Monarcas - Xote Laranjeira

  9. 9

    Os Bertussi - Oh de casa

  10. 10

    Jayme Caetano Braun - Payada do Ano Novo

  11. 11

    Mano Lima - Cadela Baia

  12. 12

    Zé Gomes - Brilho de Facas

  13. 13

    Pedro Ortaça - Galo Missioneiro

  14. 14

    Quarteto Coração de Potro - Sem Ti

  15. 15

    Os Serranos - Tordilho Negro

  16. 16

    Luiz Marenco - Batendo Água

  17. 17

    Wilson Paim - Parabéns Crioulo

  18. 18

    Tchê Garotos - As Mocinhas da Cidade

  19. 19

    José Claudio Machado - Milonga Abaixo de Mau Tempo

  20. 20

    Baitaca - Do Fundo da Grota

  21. 21

    Porca Véia - Lembranças

  22. 22

    João Luiz Corrêa - O Pau Que Dá Cavaco

  23. 23

    José Mendes - As Coisas do Meu Rincão

  24. 24

    Garotos de Ouro - Não Chora Minha China Véia

  25. 25

    Grupo Cordiona - Rosa Branca

  26. 26

    Os Serranos - De Chão Batido

  27. 27

    Baitaca - Castração a Pealo

  28. 28

    Baitaca - Cadela Baia

  29. 29

    Porca Véia - Fazenda da Viuva

  30. 30

    Porca Véia - Baile na Serra

  31. 31

    João Luiz Corrêa - Um Bagual Corcoveador

  32. 32

    João Luiz Corrêa - Surungo de Candeeiro

  33. 33

    San Marino - Ele Te Trai

  34. 34

    Teixeirinha - Velho Casarão

  35. 35

    Teixeirinha - Coração De Luto

  36. 36

    Gildo de Freitas - Definição do Grito

  37. 37

    Gildo de Freitas - Eu Não Sou Convencido

  38. 38

    Os Mirins - Terno de Reis

  39. 39

    Os Mirins - Madrugada

  40. 40

    Os Monarcas - O Vento

  41. 41

    Os Bertussi - Vida de Gaúcho

  42. 42

    Jayme Caetano Braun - Bochincho

  43. 43

    Jayme Caetano Braun - Do Tempo

  44. 44

    Baitaca - Cabelos Brancos

  45. 45

    Porca Véia - Fandangueiro

  46. 46

    Porca Véia - Luz do Meu Rancho

  47. 47

    San Marino - Foto 3x4

  48. 48

    Os Monarcas - To Voltando Pra Ficar

  49. 49

    Os Bertussi - Loira Casada

  50. 50

    Teixeirinha - Tropeiro Velho

  51. 51

    Teixeirinha - Rei do Baralho

  52. 52

    Os Serranos - Mercedita

  53. 53

    Baitaca - História do Tico-Loco

  54. 54

    Os Serranos - Criado Em Galpão

  55. 55

    Os Serranos - Lembranças

Payada do Ano Novo

Jayme Caetano Braun

Feliz ano novo, indiada
Feliz ano novo, gente
É a maneira reverente
De iniciar esta payada
Nesta hora iluminada
De pátria e de melodia
E o payador se arrepia
De tradição campesina
Na primeira sabatina
Do ano que principia

Cerimônia não preciso
Para cantar quando falo
Porque nasci de a cavalo
No lombo de um improviso
Canto até o dia do juízo
No estilo missioneiro
E o meu verso galponeiro
Dispensa qualquer prefácio
E tanto entra num palácio
Como num rancho posteiro

O ano novo parido
Anda aí, fazendo as suas
Pelos campos, pelas ruas
Potrilho recém lambido
Ainda não tem apelido
Porque é meio bagualão
Difícil de dar a mão
E bombeando, desconfiado
Como China de soldado
Em tempo de prontidão

Os homens do mundo inteiro
Fizeram um ajuntamento
Pra assistir o nascimento
Desse piazito, janeiro
E aqui, no pago campeiro
Toda indiada se reuniu
E reverente, assistiu
Com ternura, com afinco
Pra ver o noventa e cinco
Que a noite grande pariu

Aqui no povo, as famílias
Fazem o tal réveillon
Mas lá no campo, onde o som
É do vento nas flechilhas
Nós só fazemos vigílias
Quando se reúne a peonada
Na volta da madrugada
Ouviu-se um berro de touro
O ano macho, em vez de choro
Já nasceu dando risada

Sendo macho, é sempre assim
Já nasce enrugando a testa
Porque não vem para festa
De circo de borlantim
Esse vai ser de cupim
Gritava um índio de lá
Vai ser buerana esse piá
Se não der urucubaca
Umbigo cortado a faca
E enleado num xiripá

Eu ia bombeando o céu
Na hora do nascimento
E ouvindo o choro do vento
Num barbaresco te-deum
Depois tapeei o chapéu
Meio pra espantar o sono
Memoriando com entono
Do índio da timbaúva
Que ano novo é como chuva
Não tem patrão e nem dono

Entre um trago e um amargo
Recostado num esteio
Bombeava o piazito feio
Mas taludo, sem embargo
Sentindo no campo largo
Cheiro de pasto e incenso
Naquele desejo imenso
De que este ano que nasce
Faça que o homem se abrace
No amor da paz e o bom senso

Isso é um sonho, talvez seja
Do payador que improvisa
Mas um sonho se realiza
Se com fé a gente o deseja
Mas pra mim que tenho a igreja
No altar da geografia
Guardo essa filosofia
De cruzador sem parança
Se não houvesse esperança
Tudo que é pobre morria

Mas vou dar uma cruzada
Lá pras bandas de São Luiz
Onde deixei a raiz
Pra todo o sempre encravada
Terra santa colorada
De sangue guasca tingida
Terra mil vezes querida
Morada de São Sepé
Ali onde a indiada de fé
Nasce com a alma encardida

Cruzando o Piratinim
Vou ver as pedras no fundo
Santo pedaço de mundo
Que deixei mas não perdi
Voltar de novo a guri
À infância e adolescência
Rever de novo a querência
Num verdejo espiritual
Meu velho pago Natal
Onde mamei inocência

Depois - seguir olfateando
Os recuerdos de criança
Procurando a sombra mansa
Onde me criei tropeando
E logo adiante cruzando
No passo da laranjeira
Lá onde uma bugra parteira
Segundo o ritual antigo
Fez enterrar meu umbigo
Na raiz duma figueira

Depois matar a saudade
Se é que a saudade se mata
Bombeando a Lua de prata
Tropeando na imensidade
A infância e a mocidade
E as ânsias deste índio quera
E as flores da primavera
Que sem querer esmaguei
E os sonhos que não domei
Lá no rincão da tapera

Mas paro porque a emoção
Já me fez perder a calma
Tenho urumbevas na alma
E um cerro no coração
Há um chamado de amplidão
Que para longe me toca
Atração que se convoca
De acordo com as velhas leis
Vou dançar ternos de reis
Nos ranchos da Bossoroca!

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