Golpe de Vista

Douglas Germano

Meu samba não fez juramento
Mas serve pra me confessar
Meu samba não é de lamento
É muito mais de atormentar
Meu samba não porta bandeira
Meu samba não é pra rezar
Meu samba não serve pra roda
Pra outro sambista cantar
Meu samba tem sua maneira
Meu samba é do jeito que dá

Meu samba não joga no ataque
O Meu samba não sabe lançar
Meu samba é de beira de campo
De surdo de nylon e ganzá
Meu samba é juiz na gaveta
Pro time da casa ganhar
Meu samba é o coro que come
Se o time de fora virar
Meu samba é reserva que aquece
Faltando cinco pra acabar

Meu samba é quem manda na pena
Eu escrevo o que o samba pensar
Meu samba é o sarro que sobra
Na hora que ele atravessar
Meu samba é o cavaquinista
Quando a corda sol estourar
Meu samba é um golpe de vista
Termina onde quer começar
Meu samba é ruim da cabeça
O meu samba até manca pra andar

O meu samba não faz cerimônia
O meu samba não pede pra entrar
Meu samba é sem eira e nem beira
Meu samba se ajeita onde está
Meu samba não vale o que pesa
Meu samba não pesa o que dá
Meu samba é caminho sem volta
E a volta é o mundo a girar
Meu samba é o que jorra do braço
Do talho que o aço cortar

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