Vê que amenidade
Que serenidade
Tem a noite, em meio
Quando em brando enleio
Vem lenir o seio
De algum trovador!
O luar albente
Quem do bardo a mente
No silêncio, exalta
Chora tua falta
Rutilante estrela
De eteral candor!

Minha lira geme
No concentro extreme
Que a saudade inspira!
Vem ouvir a lira
Que, sem ti, delira
Não'esta solidão!
Vem ouvir meu canto
No fruir do pranto
Com que a dor rorejo
Lancinante arpejo
Que das fibras tanjo
D'este coração!

Vem meu anjo, agora
Recordar nest'hora
Nosso amor fanado
Quando eu, a teu lado
Mais que aventurado
Por te amar vivi!
Quero a fronte tua
Ver à luz da Lua
Resplendente e bela!
Descerra à janela
Que soluça o estro
Só pensando em ti!

Dá-me o teu conforto
Que este afeto é morto
Que me consagravas
Quando protestavas
Quando me juravas
Eviterno amor!
Vem um só momento
Dar ao pensamento
Radiosa imagem
Depois, na miragem
Deixa, em tua ausência
Cruciar-me a dor!

Da saudade o dardo
Vem ferir do bardo
O coração silente!
Essa dor latente
Só na campa algente
Poderá findar!
Mas, se ainda o peito
Palpitar no leito
De eterno abrigo
Eis de só consigo
Sob à lousa, em sono
Funeral, sonhar!

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