- 1
Carlos do Carmo - Lisboa Menina e Moça
- 2
Carlos do Carmo - No Teu Poema
- 3
Carlos do Carmo - O Homem das Castanhas
- 4
Carlos do Carmo - Canoas do Tejo
- 5
Carlos do Carmo - Estrela da Tarde
- 6
Carlos do Carmo - Loucura (Sou do fado)
- 7
Carlos do Carmo - Por Morrer Uma Andorinha
- 8
Carlos do Carmo - Os Putos
- 9
Carlos do Carmo - Bairro Alto
- 10
Carlos do Carmo - Duas Lágrimas de Orvalho
- 11
Carlos do Carmo - Pontas Soltas
- 12
Carlos do Carmo - Um Homem Na Cidade
- 13
Carlos do Carmo - Mar Português
- 14
Carlos do Carmo - O Sol Préguntou À Lua
- 15
Carlos do Carmo - Vem Não Te Atrases
- 16
Carlos do Carmo - Não Se Morre de Saudade
- 17
Carlos do Carmo - Partir É Morrer Um Pouco
- 18
Carlos do Carmo - Júlia Florista
- 19
Carlos do Carmo - Trem Desmantelado
- 20
Carlos do Carmo - Ferro Velho
- 21
Carlos do Carmo - Nasceu Assim Cresceu Assim
- 22
Carlos do Carmo - O Amarelo da Carris
- 23
Carlos do Carmo - Estranha Forma de Vida
- 24
Carlos do Carmo - Fadinho do Bacalhau
- 25
Carlos do Carmo - Fado Dos Cheirinhos
- 26
Carlos do Carmo - Fado Lezíria
- 27
Carlos do Carmo - Fado Varina
- 28
Carlos do Carmo - Sonata de Outono
- 29
Carlos do Carmo - Talvez Por Acaso
- 30
Carlos do Carmo - Aquela Feia
- 31
Carlos do Carmo - Calçada À Portuguesa
- 32
Carlos do Carmo - E depois do Adeus
- 33
Carlos do Carmo - Fado da Saudade
- 34
Carlos do Carmo - Fado do Campo Grande
- 35
Carlos do Carmo - Fado Moliceiro
- 36
Carlos do Carmo - Gaivota
- 37
Carlos do Carmo - Menor-Maior
- 38
Carlos do Carmo - Nova Feira da Ladra
- 39
Carlos do Carmo - O Cacilheiro
- 40
Carlos do Carmo - Olhos Garotos
- 41
Carlos do Carmo - Pedra Filosofal
- 42
Carlos do Carmo - Rosa da Noite
- 43
Carlos do Carmo - Sou da Noite
- 44
Carlos do Carmo - Uma Flor Verde Pinho
- 45
Carlos do Carmo - Andorinhas
- 46
Carlos do Carmo - Balada Para uma Velhinha
- 47
Carlos do Carmo - Cantiga de Maio
- 48
Carlos do Carmo - Elegia do Amor
- 49
Carlos do Carmo - Fado da Pouca Sorte
- 50
Carlos do Carmo - Fado Maestro
- 51
Carlos do Carmo - Fado Penélope
- 52
Carlos do Carmo - Já Me Deixou
- 53
Carlos do Carmo - Não És
- 54
Carlos do Carmo - Novo Fado Alegre
- 55
Carlos do Carmo - Onde é Que Tu Moras?
- 56
Carlos do Carmo - Retrato
- 57
Carlos do Carmo - Vestida de Madrugada
- 58
Carlos do Carmo - À Memória de Anarda
- 59
Carlos do Carmo - Abecedário Fadista
- 60
Carlos do Carmo - Casa do Fado
- 61
Carlos do Carmo - Fado do 112
- 62
Carlos do Carmo - Fado dos Açores
- 63
Carlos do Carmo - Fado dos Azulejos
- 64
Carlos do Carmo - Fado Excursionista
- 65
Carlos do Carmo - Fado Tropical
- 66
Carlos do Carmo - Fica-te Mesmo a Matar
- 67
Carlos do Carmo - Insónia
- 68
Carlos do Carmo - Lisboa Oxalá
- 69
Carlos do Carmo - Manhã
- 70
Carlos do Carmo - Morrer de Ingratidão
- 71
Carlos do Carmo - O Que Sobrou de Um Queixume
- 72
Carlos do Carmo - Olá, tu por aqui ?
- 73
Carlos do Carmo - Palavras Minhas
- 74
Carlos do Carmo - Poema do Fecho Éclair
- 75
Carlos do Carmo - Poemas Canhotos
- 76
Carlos do Carmo - Pomba Branca
- 77
Carlos do Carmo - Quando um Homem Quiser
- 78
Carlos do Carmo - Recado Para o Chico
- 79
Carlos do Carmo - Retalhos da Vida de um Médico
- 80
Carlos do Carmo - Um Dia
- 81
Carlos do Carmo - Velho Cantor
- 82
Carlos do Carmo - Vim Para O Fado
- 83
Carlos do Carmo - Vou Contigo Coração
- 84
Carlos do Carmo - Aprendamos o Rito
- 85
Carlos do Carmo - Aquela Praia Ignorada
- 86
Carlos do Carmo - Gracias a La Vida
- 87
Carlos do Carmo - Guardei Na Minha Saudade
- 88
Carlos do Carmo - Há Festa Na Mouraria
- 89
Carlos do Carmo - Homem das Castanhas
- 90
Carlos do Carmo - Maria-criada, Maria-senhora
- 91
Carlos do Carmo - Namorados da Cidade
- 92
Carlos do Carmo - Os Lobos e Ninguém
O Homem das Castanhas
Carlos do Carmo
ou no Jardim da Estrela,
num fogareiro aceso é que ele arde.
Ao canto do Outono,à esquina do Inverno,
o homem das castanhas é eterno.
Não tem eira nem beira, nem guarida,
e apregoa como um desafio.
É um cartucho pardo a sua vida,
e, se não mata a fome, mata o frio.
Um carro que se empurra,
um chapéu esburacado,
no peito uma castanha que não arde.
Tem a chuva nos olhos e tem o ar cansado
o homem que apregoa ao fim da tarde.
Ao pé dum candeeiro acaba o dia,
voz rouca com o travo da pobreza.
Apregoa pedaços de alegria,
e à noite vai dormir com a tristeza.
Quem quer quentes e boas, quentinhas?
A estalarem cinzentas, na brasa.
Quem quer quentes e boas, quentinhas?
Quem compra leva mais calor p'ra casa.
A mágoa que transporta a miséria ambulante,
passeia na cidade o dia inteiro.
É como se empurrasse o Outono diante;
é como se empurrasse o nevoeiro.
Quem sabe a desventura do seu fado?
Quem olha para o homem das castanhas?
Nunca ninguém pensou que ali ao lado
ardem no fogareiro dores tamanhas.
Quem quer quentes e boas, quentinhas?
A estalarem cinzentas, na brasa.
Quem quer quentes e boas, quentinhas?
Quem compra leva mais amor p'ra casa.