A estrela D'alva apontada e faceira
Pego a chaleira e boto em cima do braseiro
Nasci na grota e com essa vida me acostumo
Corto meu fumo e vou fechando meu paieiro
Nas laranjeiras, escuto a coruja gritando
E eu vou cantando um verso xucro e galponeiro
No clariá o dia eu dou mio pro meu cavalo
Enquanto o galo abre a güela no puleiro
No meu Rio Grande quem chega se sente bem
Fartura tem e a miséria não se assanha
Já come um pouco de puchero amanhecido
Feijão mexido meio encharcado na banha
Sábado à tarde me trajo e bota chilena
Lavo as melena pra um bochicho de campanha
Domingo cedo, sentado conto proeza
E de tarde espanto a tristeza
Golpeando um trago de canha
O graxaim grita no alto da serra
E o touro berra lá no fundo da invernada
E o peão campeiro dá-lhe um piaio macanudo
Enquanto um cuiudo vai retoçando a manada
Encilha um potro de lombo duro e baldoso
Já arrasta o toso numa grama enserenada
E o peão caseiro sapeca o bago de touro
De alpargata de couro e bombachita remendada
Meu pago xucro de muita hospitalidade
De honestidade, da verdade e do respeito
De canha pura e também do pingo encilhado
Ando pichado, lenço batendo no peito
Festa campeira quase sempre estou no meio
E no rodeio estendo os pelego e me deito
Pra me mudá é so mesmo que o mundo acabe
Já expliquei pra quem não sabe
No Rio Grande é deste jeito