Maria da Cruz

Antonio Pinto

Chamava-se ela Maria, de sobrenome da Cruz
E na aldeia onde viva, sorria, vivia, na paz de Jesus

Tinha um amor a quem ela seu coração entregara
Junto ao altar da capela singela onde ela, paixão lhe jurara

Mas certo dia veio a saber-se na aldeia
Que o seu pastor lhe mentia
Que esse amor se lhe extinguia como a luz duma candeia

Desiludida no seu amor, a Maria deixou o lar, e perdida
Veio caír desfalecida num portal da Mouraria

Sofreu a dôr da amargura, perdeu o viço e a côr
E não voltou a ventura, doçura, a ternura do amor do pastor

E hoje por cruz, a Maria que é da Cruz por seu fadário
Arrasta na Mouraria a cruz da agonia, a cruz do calvário

E ainda canta uma canção quase morta
Mas um estrutor na garganta, oiço já, quando ela canta
Ao passar á minha porta

Não tarda o dia em que ela enfim, já vencida
Terminará a agonia de arrastar na Mouraria
Toda a cruz da sua vida

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