Vai num caminho de paz
Males que vêm pra bem
Nunca olhe pra trás
Não se esqueça de mim
E do que eu te falei
Pois do pouco que sei o céu não deve desabar do nada
A mente inquieta, a dor imensa
Os olhos procurando por saídas de emergência
Enquanto aqui ainda é verão, veja você
A casa vazia, a caixa de mensagens vazia
Diferentes hemisférios, passageiros da agonia
O bairro onde ninguém vai
A casa onde ninguém mora
Coisa que ninguém diz é que a vida tá foda
E foda não por quê você não tá
Mas sim porque cê tá em outro lugar que não é o meu
Que não sou eu
De que valeu ter vivido tudo
Se agora me escapa o sentido e nem Deus
Que conferiu ordem ao caos em sete dias
Vai gritar Fiat lux e acender as terras frias
Por onde caminho, pisando em espinhos
Desastrado quixote dou bote em moinhos de vento
Em dragões que invento para dar sentido ao turbilhão
E não me encontro mais
Mas oh, não é papo de luz no fim do túnel
E o caralho
Nem atalho pra felicidade
É só o chiclete da dor que eu masco até perder o gosto
E então cuspir e dizer
Já vai tarde!
Vai num caminho de paz
Males que vêm pra bem
Nunca olhe pra trás
Não se esqueça de mim
E do que eu te falei
Pois do pouco que sei o céu não deve desabar do nada
Se tudo então já foi dito
Se tudo bem já foi feito
Se há milhões de ter ditos
Anuviando meu peito
Como pode um sujeito como eu não se despedaçar?
Senhas e contra-senhas e siglas
Cores ambíguas
E tédio e mais assédio
Depois, fotos de celebridades
Frases de sabedoria
Pôr-do-Sol com filtro sépia
Mais alarde e euforia
E eu não. Eu já acho que o silêncio vale ouro
Por quê quanto mais eu fujo e corro
Quanto mais informação recebo menos ouço
Os meus próprios gritos de socorro
Mais levito no vazio
Romances que eu podia ter escrito
De palavras represadas
Paixões que poderia ter vivido
Só no reino das ideias
Encontros marcados pelo destino ao acaso
Aos quais, eu faltei
Mas você existe ao se sentir
Sua falta, ausência, que rebate em mim violenta
Combustível pra te dar essa letra
Que se eu fico sem cantar, dor aumenta
O modo de eternizar esse encontro
Que se o corpo tropeçar, segue o canto
Ou se a vista embaçar pelo choro
Rompe e rasga a parte, estraçalha o desespero e diga
Vai num caminho de paz
Males que vêm pra bem
Nunca olhe pra trás
Não se esqueça de mim
E do que eu te falei
Pois do pouco que sei o céu não deve desabar do nada